Jesus Ressuscitou ?

Jesus ressuscitou ?

Silvia Helena Cardoso


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Crenças religiosas ou intuições cientificas sobre os chamados fenômenos sobrenaturais, como visões de Deus e ressurreição de Cristo, que não foram comprovadas por métodos adequados ou por rastros consistentes deixados na história, estão sendo severamente criticadas por filósofos, cientistas e historiadores contemporâneos, que acreditam que estes fenômenos podem e devem ser explicados através de bases racionais. Neste contexto, o problema da fé religiosa passa a ser secundário, e os pensadores procuram elaborar modelos e teorias na tentativa de reconstruir aquilo que a historia tão convictamente afirmou.

No caso da ressurreição de Cristo, estudiosos da Bíblia procuram traços históricos de uma figura que não deixou marcas na era contemporânea. Eles acham que chegou o momento de substituir o Jesus sagrado, cultuado pelos cristãos, com o Jesus real, redescoberto pela pesquisa acadêmica contemporânea. Esta investigação tem um forte propósito missionário: ao reconstruir a vida de Jesus, eles esperam mostrar que a crença na ressurreição é responsabilidade da fé crista, e não um fato com bases objetivas.

Eles publicam, eles argumentam e eles se encontram . Em cinco anos, foram publicados 24 livros sobre a ressurreição. Em fevereiro deste ano, a Universidade do Estado de Oregon, EUA, promoveu um simpósio nacional celebrando "Jesus no ano 2000". Dois meses após, uma coletânea de papers teológicos e filosóficos sobre os mistérios da ressurreição e das visões dos apóstolos, foi alvo de profundos debates em uma conferência de 4 dias na suntuosa Arquidiocese de New York.

Em suas persistentes buscas do Jesus histórico, os estudiosos argumentam que as histórias do evangelho sobre o túmulo vazio e as aparições de pós-ressurreição são ficções planejadas após sua morte para justificar afirmações de sua divindade. Outros, como o teólogo alemão Luderman, cujo livro causou violentos protestos entre cristãos alemães, afirma que a ressurreição foi uma visão subjetiva dos apóstolos.

Essas inferências são baseadas nas próprias contradições dos apóstolos em suas citações no evangelho, sobre as características, lugares, tempo e mensagens atribuídas a Jesus ressuscitado. Por exemplo, o evangelho de Mateus cita que a primeira aparição de Jesus foi a Maria Madalena e outras mulheres. Lucas menciona sua primeira aparição a Pedro, e Marcos não cita nenhuma aparição. Alem disso, o evangelho de Lucas diz que Jesus apareceu aos apóstolos em Jerusalém; Mateus disse que foi na Galiléia. Achados arqueológicos também evidenciam ambigüidades e contradições históricas. A autora australiana Barbara Thiering decifrou papiros antigos, e o que eles revelam é que Jesus foi crucificado em um vilarejo chamado Qmram e enterrado em uma caverna próxima ao Mar Morto, diferentemente também, do que dizem as escrituras.

Para John Dominique Crossan, um prolífico doutor em estudos bíblicos, formador de padres católicos romanos, na Universidade de DePaul, em Chicago e autor de "Who killed Jesus?" (Quem matou Jesus?), a tumba de Jesus estava realmente vazia. A razão: "possivelmente seu corpo já tinha sido devorado por cães selvagens - um destino fatídico, típico dos criminosos romanos crucificados". Crossan não acredita que nenhum dos relatos do Novo Testamento tenha raízes históricas.

As narrativas controversas da pós-ressurreição , a dúvida sobre os estados alterados da consciência dos apóstolos durante as aparições, a escassez de dados arqueológicos e a ausência de registros escritos na era pós-evangelho, demonstra que existe pouco o que podemos dizer sobre a identidade de Jesus. O que parece garantido pela evidencia histórica, nem sempre parece ser verdade. Por outro lado, ainda que se evidencie contradições e inverdades sobre a ascensão de Jesus pelos historiadores antigos, parecem ser muito pouco cautelosas as inferências dos estudiosos da pesquisa bíblica contemporânea, como por exemplo, alguns deles afirmarem que cães selvagens comeram o corpo de Jesus em sua tumba. Estas são suposições subjetivas e sem qualquer base em achados arqueológicos ou históricos. Também, a afirmação de que os apóstolos eram visionários subjetivos, não tem qualquer fundamento ou credibilidade, desde que não se aplicou tecnologia psicológicas nos apóstolos para avaliarem sanidade mental durante suas visões. Assim, embora os contemporâneos estejam assumindo inverdades escritas no passado, eles incorrem também no mesmo erro quando pronunciam suas intuições subjetivas não comprováveis.

Acredito que se os historiadores daquele tempo não conseguiram clarificar a história sobre Jesus, dificilmente os contemporâneos o farão, e a historia fatual de Jesus continuará sendo um mistério, a não ser que alguma descoberta arqueológica de veracidade incontestável venha confirmar ou refutar os fatos relatados pela Bíblia.


Artigo publicado no jornal Correio Popular, julho de 1996.
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